terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Tá bom

Rotina? Monotonia? Mesmice? Talvez alguma dessas ou todas. Talvez nenhuma ou nada. O que nos sobra além das coisas casuais? Segundo dicionários, coisas casuais(casualidade) são coisas acidentais, eventuais. Logo, além do acaso pode sobrar bem pouca coisa. Acaso é encontrar alguém que divida contigo, o mesmo amor por tal literatura, estilo musical parecido ou coisas que valha e ao mesmo tempo encontrar diferenças nessa pessoa e acolhê-las. É entregar-se aos sentimentos que surgem "do nada" a alguém que fuja totalmente dos padrões que tu estabeleceste pra alguém que seria ideal pra ti, mas apesar disso, entregar-se.  Talvez isso soe cliché ou non sense, mas vejamos que é uma coisa um tanto casual e inevitável.
E quem sabe, seja perder a paz da rotina e não desejá-la novamente, desejar dividir seu domingo ao som de bossa nova a fim de colori-lo. Descobrir que o desfecho dos mistérios que vão além da compreensão racional. Talvez seja a casualidade que te faz tropeçar e gera assim, algumas colisões - nem sempre benévolas - com corpos que mudarão todo o percurso da vida, aquela massa que parece ter saído de algum clássico francês, vocês se olham e sorriem de canto, pedem desculpas e continuam a caminhar.
Alguns dias depois, encontram-se num café reservado com aparência rústica, ambos pedem seus cafés e cada qual da sua mesa, retiram das bolsas seus respectivos livros - Foucault e Sartre, quem sabe? - tiram cartões de visitas de lojas aleatórias que usam como marcadores de páginas e começam suas leituras, entreolhando-se. Simultaneamente, levantam-se e vão embora. Tu pensas neste alguém. Ele desejaria ter ido falar contigo. Deitados em suas camas, olham para o teto desejando que caíam para poderem observar o universo dali. Mas contemplar o universo e toda sua imensidão, sozinho, soa-lhes triste.
Ambos fugiram instantaneamente ao sentirem o cliché das borboletas no estômago. Leram romances em que o personagem apaixonado sempre sofre por amar demais, lembraram do Pierrot, e não desejariam sê-lo. Não pretendiam perder suas respectivas pazes e a segurança de seus mundos. Além das coisas casuais, pouco sobra. Pouco importa. Talvez a normalidade, talvez acordar às seis, vestir o uniforme e um sorriso falso e ir ao trabalho, à escola, desejar o fim, ou apenas uma aventura, ou uma casualidade. Cá entre nós, "O que te sobra além das coisas casuais? Me diz se assim está em paz? Achando que sofrer é amar de mais."

terça-feira, 11 de dezembro de 2012


Encontramo-nos em um grande processo de autoconhecimento - vida.
Conhecemo-nos mas não nos compreendemos.
Tarefa árdua e demasiadamente ociosa,
Então nos retiramos do mundo, para facilitá-la.
E tal tarefa deixa de ser o que foi para ser penosa e melancólica.
Deixamo-nos ver quem realmente somos, se não o reflexo da doença do mundo.
Tentamos mudar no que não nos compete, porque não temos coragem de encarar a mudança que deveria vir de nós.
Não é covardia. Não é temor. Apenas é assim.
Desenhamos um lindo sol e acreditamos que esteja ali e onde quer que estejamos.
Vimo-nos em um grande espelho e percebemos a falta de imunidade perante a epidemia de alienação.
O mundo não está ao contrário. Somos nós que estamos de cabeça para baixo.
Forçando tanto peso nela que nos impossibilita de pensarmos.
Refugiamo-nos do mundo. Encontramo-nos presos em grades de nosso consciente, que nem sempre é tão consciente.
Caímos em uma abismo de vazio.
Aquele velho vazio -
o mesmo que reclamávamos que havia no mundo.
Imagem real e virtual - a imagem e semelhança.
Dois vazios -
Dois doentes -
Dois refugiados sem abrigo.

domingo, 18 de novembro de 2012

Meio punhado de frases sem nexo

Ouvi dizer que muitos temores nascem do cansaço e da solidão. Talvez o cara que me disse isso, estava certo. Talvez todo esse medo tenha sido criado por uma frustração a qual não aprendi lidar. Tudo que consigo é vomitar meia estrofe sem sentido, na tentativa de amenizar toda a aflição de ser, apesar de tudo, mais uma supérstite à bordo desse barco chocado contra um iceberg de dejetos, inundando e imundando nossas cabeças, de modo que não dá para limpá-las. E fedemos. Porque já somos podres por dentro. E quando apodrecemos, tudo em nossa volta parece podre.
Mas sobrevivemos. Mesmo não sabendo. Não sabemos sobreviver. Não sabemos sobre viver. E vagamos. Por aí, desrumados. Esperando por algo que nos salve. Mas ninguém poderá nos salvar. É estupidez querer salvar um peixe que nada contra a correnteza por vontade própria para fadigar o máximo suas nadadeiras e sucumbir de cansaço. É o mesmo que trancar um pássaro na gaiola por ele querer voar pra longe, se estivesse solto, para ganhar o céu, conhecer novos horizontes e canções.
Há coisas que não nos compete mudar. Nem sempre haverá devires ou vontade de que haja. Não queremos encarar o que há devir, ou o que há de vir. Sobreviver, não sei. Sobre viver, sei menos ainda.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tragando (des)Amor

A chuva compõe a trilha sonora dessa madrugada vazia, enquanto ela escreve seus versos simplórios, embora carregados com todos os sentimentos possíveis. Uma tragada no cigarro, solta a fumaça que a distrai fazendo-lhe companhia. Lágrimas e chuva se misturam homogeneamente à procura de algum tipo de Alívio Imediato.
Cantando melodias de algum som pesado, extravasando de alguma maneira para não enlouquecer. Os versos enchem o caderno que lhe serve de consolo. Ninguém pode ouvir seu desabafo. Ninguém pode ouvir seus choros.  Solos de guitarra, fazem esquecer o desamor Gritos ecoando no subconsciente, fazem pirar. Ninguém pode ouvir. Traga desamor. Solta fumaça que se dissipa em débil poesia melodramática.
Talvez ela seja o café frio da xícara de alguém que se nega a tomar, porque não consegue degustar depois de tê-lo esperado esfriar. Traga sentimentalismo. Solta frieza. Afoga-se, tosse, bebe um gole do seu café requentado e continua seus rascunhos. Talvez o rascunho daquele amor, tenha sido rasgado e jogado no lixo. Mas não foi ela que o fez. Alguém entrou na sua história, bagunçou-a, riscou-a e jogou fora. E agora?
Traga desamor. Solta lágrimas. Talvez ela seja o cigarro molhado de alguém ou aquele que foi aceso do lado inverso. Ou ao menos assim que se sente. Levou afeto, trouxe desgosto. Ninguém vê. Ninguém ouve. A chuva passou. O alívio imediado não veio. Não traga mais, acabou o cigarro. Quis sair pra comprar mais, e aquela famosa história de nunca mais voltar. Porém, contentou-se em dormir e desejar que acorde soterrada com o teto sob sua cama.

domingo, 2 de setembro de 2012

Todo espetáculo tem seu fim

O que é a vida, senão uma tragédia grega? Onde cada um é autor da sua própria história. Em muitas, seu autor é aquele cara depressivo que escreve com uma caneta barata que falha constantemente, bebendo um chá qualquer que provoque falência múltipla dos órgãos. Entre um solilóquio e outro, decide mudar o roteiro da peça e com alguns lapsos de memória a deixa de lado. Procurando a calma que perdeu, ao perceber que os personagens secundários são monótonos e não agem de acordo com o script. 
Às vezes este autor escreve sobre um suicida ou um idolatrador da vida, um insensível ou um sentimentaloide. Mas mal sabem os espectadores desse espetáculo, que todos esses personagens são a forma de que o escritor dela, descobriu de vomitar suas angústias que ninguém pode ou quis ouvir. Ao som de Cash, esse homem solitário decide pôr logo o fim no espetáculo. Seu último ato está para ser escrito.
Seu chá não fez efeito desejado, talvez deveria tomar mais. "Misture um pouco de Cianureto, as pragas não precisam disso mais do que você", é talvez funcione. Ele vai explodir e ninguém pode impedir. Não há ninguém para isso, não há ninguém para juntar seus miolos do chão. Ele tenta se controlar, mas o chão está se abrindo sobre seus pés, tapa seus ouvidos para não ouvir seu subconsciente gritando a verdade que ele não quer acreditar. Olhando para o cenário, reflete bem: "Isso aqui está uma insânia! Quando paro pra pensar, chego apenas à uma conclusão: O mundo é um hospício! Falo em sanidade, mas a loucura é a minha utopia. Loucos, loucos. Tão felizes. Só está a salvo quem alcançou sua insanidade ou seu óbito.".
Realmente isso parece uma loucura, o pior é quando essa loucura se passa dentro da gente. Loucura que mais parece um conflito entre as personalidades e sentimentos. Sabe, talvez ele seja um louco. Ele bem sabe quais serão os comentários sobre a peça na saída desse teatro. Mas ele nem liga, apenas lamenta as pessoas que estão presas às trevas do julgamento. Não, você não tem último pedido. Você não tem salvadores. Sem luz, câmera ou ação. Acabou o último ato.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Conto teu encanto




Canto teu encanto, e conto que me encanta.
Conto que seria eu capaz de cantar, 
Cantar os belos boleros apaixonados ao pé da tua janela. 
Conto loucuras que já as cometi à cá em minha mente. 
À cá em meus sonhos nos quais dançávamos Cbotis
tendo como espectadores as estrelas e a Lua cheia que banharia o coração dos pobres apaixonados que cantam, como eu. 
Conto que já te dei o mundo, já morri em teus braços.  
Canto que as insanidades são demasiamente abundantes quando penso em poder tê-la.
Cantam que amores imperfeitos são as flores da estação, e saem a dizer por aí. 
Conto que amores platônicos, como o que te sinto, 
são sóis que fortificam frágeis vidas que vivem ociosamente à procura de conquistar aquilo que as compete.
Canto o exemplo da minha discreta – quase imperceptível – existência que tem tal inutilidade longe de ti.
Conto que vivo Mortsdegana pelo encanto do teu amor.  
Então conto que guardo no canto a ardente – platônica? – afeição minha para contigo só me compete procrastinar tal sentimento que deixo reprimido comigo.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Apenas mais uma de (des)Amor.

Suas pálpebras parecem pesar toneladas. Sua visão parece estar em meio à neblina, impossibilitando enxergar poucos palmos à sua frente.Encontra-se perdido, rodando sem direção, perambulando atrás do que lhe foi tirado. Seu emocional foi à machadadas partido. Suas desilusões pesam mais do que ele pode aguentar. Sente-se um lixo vagueando levado pelo vento. O pior dos lixos: impossível de ser reciclado. Não há cabeça que suporte tanto pressão, julgamentos; críticas, sem explodir. E não há ninguém que se importe com isso.
Caminha sem rumo, moroso pela multidão sem se dar conta de onde está. Entra no primeiro bar que encontra, senta-se afastado dos demais, pede uma bebida mesmo sabendo que não há bebida forte suficiente para fazer esquecer os outros porres de decepções e indiferenças. Ou as vezes em que esteve em princípios de overdoses de amor, no êxtase da felicidade, que se foram. Distrai-se facilmente com o gelo no copo, afogando-se em seus pensamentos mortificantes. Não há imunidade que consiga resistir de tanto mal feito a um coração passionalmente adoentado, jogado na privada suja de um banheiro de boteco, ao som do mais exorável dos boleros.
O último romântico passou a noite embriagado pranteando suas dores para um garçom, ou até algum taxista na volta pra casa. Não se lembra bem nem de seu endereço. Pensou em ir atrás da autora desse sofrimento ou pôr fim em toda essa tal desconsolação que o derrubou. Subiu no viaduto, olhou para baixo, os carros que ali passavam, as luzes da cidade. Por alguns segundos pensou em se jogar. Refletiu consigo mesmo por algum instante. Afinal, pra que suicídio? O mundo nos mata tortuosamente todos os dias, desde nosso nascimento. É como se nos fosse colocado um Garfo Medieval penetrando do queixo ao tórax, arrancassem os dentes com um torquês ou colocasse-nos sentados num Berço de Judas sentindo toda a crueldade da tortura medieval. Sem piedade, sem se importar se temos sentimentos ou não. Tortura-nos sem dó. E dói. Infecta. Mata. Até a gente ser como pedras ou icebergs. Duros e frios. Ou um animal tonto e apático.
O mundo é sádico. Querer viver nele é masoquismo. Conviver com ele é a melhor definição para suicídio. O mais lento e cruel suicídio. Desceu do viaduto e seguiu finalmente para casa. Deitou-se na cama e nunca mais desejou que o teto desabasse sobre si. Afinal, ele já estava se suicidando vivendo nesse mundo frio.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Souvenir


Só eu sei o quão intenso era meu desejo de desligar-me, como se desliga um aparelho eletrônico qualquer. Ser colocada numa estante feito uma lembrança boa; aquelas que a gente guarda com todo o cuidado e ao olhar pra ela, sorri. Ser lembrada com tanto êxtase; ou apenas surpresa. "Oh, você por aqui? Procurei-lhe por todo o canto" - eu estaria ali há tempos, que o pó veio e foi-se. Esperei-lhe notar-me. Esperei-lhe limpar-me. Esperei-lhe fazer-me voltar à vida. Mas não me encontro numa estante à ser exibida como um troféu desejado. Encontro-me onde nunca desejei estar: Fazendo parte de um calendário antigo guardado numa gaveta qualquer de uma estante velha jogada no sótão. E agora que posso eu fazer?

Dizem por aí que está fazendo frio lá fora. Ainda não saí daqui pra constar, mas só eu sei que esse frio não se compara ao que faz dentro da gente. Sabemos que sentimentos são como café que depois de esfriar, a degustação fica impossível. Tínhamos o calor; tínhamos sentimentos.  Temos o frio; temos a apatia. Não temos poder sob os verbos. Não temos poder sob nós mesmos. E agora que podemos nós fazer? Enquanto à mim, esperarei o momento de você me tirar dessa gaveta - e deixar de ser apenas uma lembrança.

Souvenirs são grilhões que nos prendem a algo que talvez nunca tenha nos pertencido. Sozinhos na estante, a gente chora de saudade do tempo perfeito, mesmo sabendo que os sócios deste estão a rir e esqueceram, de tudo que foi vivido, o tudo que lhe manteve vivo. Idas e vindas da vida, uma hora estamos abrigados no peito de alguém, em outra esquecidos no canto das das memórias.

terça-feira, 3 de abril de 2012

5h24min

O mundo fez um retrato de mim. E eu não me reconheço nele. Será enganação? Uma farsa? Ou apenas estou inconformada por ser tachada. O mundo não me conhece, mesmo assim me pintou num quadro qualquer. Quase um 3x4. Insignificante e julgado. Talvez eu seja isso que foi pintado. Ou acredite nesse mundo alucinado. Quem sou eu, se não um rosto perdido? Procurando em cada peito um abrigo, vestindo luto, com o emocional partido. Quem se importa? O mundo já pintou aquela pessoa toda torta. Fora do senso-comum, fora dos padrões da moda.
Onde ganho espaço pra me expôr, se não em um calendário, no mês de novembro, esquecido na gaveta de uma estante velha. Com o rosto desfigurado, cansado. Tentando achar um meio de não ser rechaçado. De que vale? Que diferença faz? Eu não sei. Mal sei quem sou. Ou quem queria ser.
De que vale tantos sentimentos nobres e nenhum servo? Ter cartas de amor e nenhum carteiro para entregar a algum destinatário? De que vale tudo isso? A vida? Se não há razão para viver, quanto vale existir? Ajude-me a sair daqui. Desse retrato errado, pintado de mal grado.

terça-feira, 27 de março de 2012

O amor começa

O amor começa. Começa em meio à estação de metrô lotada; nas tardes de domingo à beira-mar; nas caminhadas na praça para espairecer; na sessão das duas no cinema. Sem explicação, o amor apenas começa. Na praça coberta de folhas que cairam no outono, no refrão da música de Chico Buarque; no final do campeonato disputadíssimo; à beira de uma colapso nervoso; na erupção de um vulcão; no barzinho da faculdade onde eram feitos os Happy-Hour; no intervalo da novela do horário nobre; entre as prateleiras da biblioteca; ele apenas começa.
Quando a esperança está perdida; quando o universo conspira contra; quando a vida vira de cabeça para baixo; quando o poeta perde a inspiração; o louco a insanidade ou o compositor o refrão. O amor começa, assim mesmo, sem explicação. Ele começa para impedir loucuras ou simplesmente permiti-las. Para dar razão às coisas, ou simplesmente tirá-la delas. E quem entende? Não carece entender, o que vale é sentir.
Enquanto uns buscam razão no sentimento, o amor começa. Entre mensagens recebidas na madrugada; afetos trocados no portão de casa; em um abraço acolhedor e apertado; na loja preferida de discos; na rua, entre tropeços e momentos lunáticos ao ver os faróis de carros; o amor começa. Começa para esquecer os que deixaram de recomeçar; morreram ou nunca cogitaram começar. Os amores começam, por vezes perduram, por vezes não passam de uma noite ou apenas de um relance em meio à multidão, e perde-se o príncipio. Começa quando a gente menos espera e termina quando pensamos que seria para sempre. Quando o amor acabar, espere um tempo. Porque o amor sempre começa.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Relatos de uma Eremita

Há 16 anos que vivo isolada do mundo. Ou como prefiro dizer de forma mais sutil: retirei-me do mundo lá fora pra me refugiar no meu. Sabe,  o "lá fora" nunca me agradou, então criei um lugar só pra mim, como eu queria que fosse. Sentimental, colorido, sem regras ou hierarquias, injustiças ou desamores. Dentro dele eu me inventava, quando achava que não estava bom; reinventava. Fazia a felicidade e acreditava nela. Multiplicava-me e satisfazia-me com tantos personagens. Pode parecer estranho, na verdade é. Talvez a essência da felicidade esteja na excentricidade. Não à toa que rimam.
Não tinha curiosidade de saber como era o mundo lá fora, porém era obrigada a frequentá-lo às vezes. Então eu saía do meu refúgio e encarava toda a hostilidade de um mundo frio. No começo, eu não sabia lidar muito bem. Então descobri maneiras das pessoas não me atingirem. Fechei-me em mim. Conversava com poucas pessoas, tinha pouquíssimos amigos, isso fazia eu me sentir menos só e vazia pra encarar esse cinzento mundo, que era um tanto quanto assombroso. Não que eu confiasse ou gostasse das pessoas. A maioria das vezes elas estavam falando - sem nada a dizer - e eu não conseguia dar-lhes atenção. Tanta mesmice, superfluidade, que serviam-me de sonífero. Eu até gosto de algumas pessoas, mas prefiro os animais. Eles nunca fingem gostar de alguém, dissimulam sentimentos ou mentem pra ser aceitos.
Se as pessoas parassem pra me ouvir, não entenderiam. Não falta compreensão ou empatia. Faltam pessoas que as exercitem. Bem como o amor, ah, o amor. A sociedade tornou o amor tão trivial. Pegaram seu significado, amassaram e jogaram no lixo. Agora todos andam exânimes; sem amor; sem razão; sem paz ou vida. Procurando uma casa ou peito pra chamar de lar. Por isso prefiro viver trancada em mim, esse é meu mundo. Lá fora? Prefiro chamar de Cemitério dos sentimentos. O que é.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Hospício ou Mundo Real?

Mundo Real, proibido ultrapassar(limites)
"No mundo real, uma dose de desamor é suficiente para causar um porre de melancolia, uma ressaca de lástimas; dor de cabeça insuportável; coração partido e um desiludido a mais vagando sem rumo no mundo. Na loucura, isso tudo é lição e desamor não existe. Loucura é amar."

sábado, 17 de março de 2012


O problema não é o amor, o problema é que a gente não sabe amar. O problema não é a vida, o problema é que a gente não saber viver. A verdade é que o mundo é um grande hospício, somos todos malucos incapazes de sentir e viver. O lado bom? As camisas de força são quentinhas pra encarar o mundo frio.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Inventando amores exagerados

Perdido sem pai nem mãe, o Maior Abandonado estava largado no mundo; andava tão down. Até que ele encontrou sua flor, seu bebê, e deu-a o codinome Beija-flor. E largou tudo, dinheiro; carreira e canudo. Pediu a mão do Beija-flor, pedindo um pouquinho de proteção e foram pra qualquer lado, Solidão que nada! O Beija-flor passou a cuidar do Maior Abandonado, mesmo que ele sendo uma pessoa egoísta e ruim. Foram para a Bahia, no embalo da rede; matam a sede na saliva. Talvez voltem qualquer dia. Lá vivem pequenas porções de ilusão e veem a sessão coruja até o dia nascer feliz. Convencidos de que o céu faz tudo ficar infinito. Por que eles são assim? Sempre a fim de uma dose, lembram que o banheiro é a igreja de todos os bêbados. Queriam ter uma bomba, um flit paralizante qualquer. Ou talvez apenas uma ideologia pra viver. Não ligavam para as caras tristes, fingido que eles não existem. Seguem sua estrela, seu brinquedo de star. Pagam o preço por não serem medíocres, gargalham de tudo. Não fazem poesia, pois ainda há burguesia. Não entendem como pode alguém tão demente, porra louca, inconsequente e ainda amar.
Vivem um amor com sabor de fruta mordida; transformam o tédio em melodia; aguam o bom do amor; sonham acordados pra não sentirem dor. Seus pais não os conhecem, seus amigos são chatos e seus cachorros não os lambe. Agora estão em cima do muro assistindo a tudo, já que suas piscinas estão cheias de ratos. O partido deles? É o coração partido. Suas ilusões estão todas perdidas. Seus sonhos? Todos vendidos. Tão baratos, ah! Eu nem acredito!
Estão inventando tudo isso pra se distrair. Correndo na direção contrária, com suas metralhadoras cheias de mágoas. Sobrevivem da caridade de quem os detesta. Às vezes se odeiam por quase um segundo, depois se amam mais. Não buscam o paraíso, pois até o poeta fecha o livro. As possibilidades de felicidade são egoístas. Por isso inventam! Forram as paredes do quarto de miséria com manchetes de jornal, pra ver que não é nada sério. Desprezam que os ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois. Seus crimes não compensam. Estão cansados de tanta caretice, tanta babaquice; dessa eterna falta do que falar. Vivem num clipe sem nexo. Vagam na lua deserta... dizem alô ao inimigo... encontram um abrigo... inventam o amor! Exagerados! Tiveram seus destinos traçados na maternidade. Simples como uma filosofia de calçada... Simples como trazer mil rosas roubadas. A unica certeza que eles tem, é que O TEMPO NÃO PARA!

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Distantes

Você sabe, faço tudo errado. Cada vez que me afasto, é porque já lhe sinto distante. Cada vez que silencio, é porque preciso de suas palavras. Quando quero morrer, na verdade só quero que você me salve. Mais uma vez. Apenas mais uma. Por favor, não desista de mim. Não tão fácil assim. Não posso lhe cobrar por não saber lidar comigo, nem eu sei. Então volte para casa. Pro seu lar, meu peito. Arrumei um canto mais confortável pra você ficar. Sem bagunça. Sem feridas. Apenas amor. Volte quando quiser. Mas volte a me salvar. Logo. Agora. Sabe, eu sei que nunca fui uma boa pessoa, porém lhe garanto que sempre direcionei meu melhor pra você. Talvez você não entenda. Eu também não entendo, como pode alguém assim como eu abrigar um amor tão grande. Não necessita explicações. Volte e me salve. Mas se não for pra me salvar, não desperdice nossos tempos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sem Clarisse

Onde está Clarisse? Se alguém a ver, avise-me. Clarisse estava estranha, como nunca vi antes. Seu sorriso parecia com ferrugem, seu coração aprisionado. Tentava eu, entender aquela garota que todos julgavam, sem ao menos conhecê-la. Quis eu abraçar aquela garota. Ser seu porto seguro, protegê-la do mundo. Tão quieta, aparentemente, mas eu sabia que seus pensamentos a atordoavam. Pessoas quietas demais costumam ter pensamentos turbulentos. Com ela não era diferente. Eu deveria ter ficado com ela naquela noite anterior. Deveria, porém, fui embora. Por que? Por que eu deixei-a?
Onde está Clarisse? Preocupo-me ao saber que ela saiu as ruas, mostrando as marcas de suas dores em forma de feridas em seus braços, exibindo-se para a solidão, permitindo que as pessoas a machuquem. Não posso lembrar que deixei só, aquela garota. Deixando-se ser guiada apenas pelas estrelas, aquela garota capaz de iluminar a lua com o brilho do seu olhar triste, solitário, mas mesmo assim cintilante. Estes que esbordavam sentimentos. Eu sei que não poderia salvar Clarisse de si mesma. Mas deveria ter ficado com ela naquela noite, última noite.
Deveria ter aberto aquela - última - garrafa de vinho, posto um disco a rodar, ter-lhe citado seu poema preferido e... fechado a janela. Não fiz nada disso. Nada! Estou com o jornal em minhas mãos, meus olhos assassinam meu coração cada vez que leem tal notícia. As lágrimas estão caindo no café, já frio. Meus pensamentos gritam intrigados "POR QUE NÃO FICASSE COM ELA NAQUELA NOITE?" Leio mais uma vez, pra tentar me convencer que é um sonho:
"Garota se atira da janela do 6° andar. Ninguém sabe o motivo. Seu nome é Clarisse e segundo conhecidos, era uma garota solitária e triste. O que poderia ter motivado o ato. Foi encontrado o seguinte bilhete em seu apartamento: 'Eu tentei. Mais de uma vez. Tentei! Mas não posso ser como eles, todos tão iguais. Eu não sei lidar. Mas agora, poderei descansar.' Peritos estão no local para apurar os fatos."
Clarisse levou consigo meu coração, minha razão pra viver. Agora estou aqui. Sem coração, sem coragem, sem Clarisse e com um café frio.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Passionalmente morto

Sentado em frente ao mar, pensando como seria sua vida, senão fosse como era. Seus pensamentos o atordoavam. Tiravam seu sono. Motivavam seu choro. A cada dia criara uma vida para si. O problema? Não acreditava nelas. Então ele sorria. Não por estar feliz, mas por estar acostumado. Leva tempo, porém a gente acostuma a fingir felicidade. Por vezes, até nos convencemos estar feliz por tamanha atuação, digna de óscar. Sorria! ordenava à si. Levante-se! era em vão. Se fosse possível controlar nossos sentimentos, tudo seria mais fácil. Se tudo fosse mais fácil, seria mais sem graça ainda. Seus pensamentos estão explodindo sua consciência. Procura sua razão que fora perdida no momento em que começou a sentir tamanho amor. Amor que fisicamente foi embora. Fisicamente, apenas. Pois ainda se encontrava ali, no lado esquerdo do seu peito, torturando-o.
Com seu maço de cigarro e uma garrafa de uísque, amenizava um pouco de tanto sofrimento. Agora em casa, com sua solidão, acendeu mais um cigarro, virou o disco pela quarta vez, tomou mais uma dose. Sentou de frente para a porta de entrada e ficou esperando ela abrir a porta e dizer que nunca mais quer ficar longe dele. Porém, ela não veio. Nunca mais virá. Sentir falta não é motivo suficiente pra fazer alguém voltar. A ideia do término era incompreensível pra ele. Acabou o uísque, foi ao bar comprar mais. Acabou o amor, foi ao bar comprar mais uísque. Caminhava pelas ruas, olhando para o chão, tropeçando pelas calçadas. Procurando em cada rosto o de sua amada. Ela se for. Aceitar? ele não conseguia. Distraía-se vendo os faróis dos carros vindo em sua direção. Lembrava-se que estava em uma escuridão e não poderia ser salvo. A cada minuto uma parte de si, morria. Era mais um morrendo por amor. Passionalmente, morrendo.