terça-feira, 27 de março de 2012

O amor começa

O amor começa. Começa em meio à estação de metrô lotada; nas tardes de domingo à beira-mar; nas caminhadas na praça para espairecer; na sessão das duas no cinema. Sem explicação, o amor apenas começa. Na praça coberta de folhas que cairam no outono, no refrão da música de Chico Buarque; no final do campeonato disputadíssimo; à beira de uma colapso nervoso; na erupção de um vulcão; no barzinho da faculdade onde eram feitos os Happy-Hour; no intervalo da novela do horário nobre; entre as prateleiras da biblioteca; ele apenas começa.
Quando a esperança está perdida; quando o universo conspira contra; quando a vida vira de cabeça para baixo; quando o poeta perde a inspiração; o louco a insanidade ou o compositor o refrão. O amor começa, assim mesmo, sem explicação. Ele começa para impedir loucuras ou simplesmente permiti-las. Para dar razão às coisas, ou simplesmente tirá-la delas. E quem entende? Não carece entender, o que vale é sentir.
Enquanto uns buscam razão no sentimento, o amor começa. Entre mensagens recebidas na madrugada; afetos trocados no portão de casa; em um abraço acolhedor e apertado; na loja preferida de discos; na rua, entre tropeços e momentos lunáticos ao ver os faróis de carros; o amor começa. Começa para esquecer os que deixaram de recomeçar; morreram ou nunca cogitaram começar. Os amores começam, por vezes perduram, por vezes não passam de uma noite ou apenas de um relance em meio à multidão, e perde-se o príncipio. Começa quando a gente menos espera e termina quando pensamos que seria para sempre. Quando o amor acabar, espere um tempo. Porque o amor sempre começa.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Relatos de uma Eremita

Há 16 anos que vivo isolada do mundo. Ou como prefiro dizer de forma mais sutil: retirei-me do mundo lá fora pra me refugiar no meu. Sabe,  o "lá fora" nunca me agradou, então criei um lugar só pra mim, como eu queria que fosse. Sentimental, colorido, sem regras ou hierarquias, injustiças ou desamores. Dentro dele eu me inventava, quando achava que não estava bom; reinventava. Fazia a felicidade e acreditava nela. Multiplicava-me e satisfazia-me com tantos personagens. Pode parecer estranho, na verdade é. Talvez a essência da felicidade esteja na excentricidade. Não à toa que rimam.
Não tinha curiosidade de saber como era o mundo lá fora, porém era obrigada a frequentá-lo às vezes. Então eu saía do meu refúgio e encarava toda a hostilidade de um mundo frio. No começo, eu não sabia lidar muito bem. Então descobri maneiras das pessoas não me atingirem. Fechei-me em mim. Conversava com poucas pessoas, tinha pouquíssimos amigos, isso fazia eu me sentir menos só e vazia pra encarar esse cinzento mundo, que era um tanto quanto assombroso. Não que eu confiasse ou gostasse das pessoas. A maioria das vezes elas estavam falando - sem nada a dizer - e eu não conseguia dar-lhes atenção. Tanta mesmice, superfluidade, que serviam-me de sonífero. Eu até gosto de algumas pessoas, mas prefiro os animais. Eles nunca fingem gostar de alguém, dissimulam sentimentos ou mentem pra ser aceitos.
Se as pessoas parassem pra me ouvir, não entenderiam. Não falta compreensão ou empatia. Faltam pessoas que as exercitem. Bem como o amor, ah, o amor. A sociedade tornou o amor tão trivial. Pegaram seu significado, amassaram e jogaram no lixo. Agora todos andam exânimes; sem amor; sem razão; sem paz ou vida. Procurando uma casa ou peito pra chamar de lar. Por isso prefiro viver trancada em mim, esse é meu mundo. Lá fora? Prefiro chamar de Cemitério dos sentimentos. O que é.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Hospício ou Mundo Real?

Mundo Real, proibido ultrapassar(limites)
"No mundo real, uma dose de desamor é suficiente para causar um porre de melancolia, uma ressaca de lástimas; dor de cabeça insuportável; coração partido e um desiludido a mais vagando sem rumo no mundo. Na loucura, isso tudo é lição e desamor não existe. Loucura é amar."

sábado, 17 de março de 2012


O problema não é o amor, o problema é que a gente não sabe amar. O problema não é a vida, o problema é que a gente não saber viver. A verdade é que o mundo é um grande hospício, somos todos malucos incapazes de sentir e viver. O lado bom? As camisas de força são quentinhas pra encarar o mundo frio.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Inventando amores exagerados

Perdido sem pai nem mãe, o Maior Abandonado estava largado no mundo; andava tão down. Até que ele encontrou sua flor, seu bebê, e deu-a o codinome Beija-flor. E largou tudo, dinheiro; carreira e canudo. Pediu a mão do Beija-flor, pedindo um pouquinho de proteção e foram pra qualquer lado, Solidão que nada! O Beija-flor passou a cuidar do Maior Abandonado, mesmo que ele sendo uma pessoa egoísta e ruim. Foram para a Bahia, no embalo da rede; matam a sede na saliva. Talvez voltem qualquer dia. Lá vivem pequenas porções de ilusão e veem a sessão coruja até o dia nascer feliz. Convencidos de que o céu faz tudo ficar infinito. Por que eles são assim? Sempre a fim de uma dose, lembram que o banheiro é a igreja de todos os bêbados. Queriam ter uma bomba, um flit paralizante qualquer. Ou talvez apenas uma ideologia pra viver. Não ligavam para as caras tristes, fingido que eles não existem. Seguem sua estrela, seu brinquedo de star. Pagam o preço por não serem medíocres, gargalham de tudo. Não fazem poesia, pois ainda há burguesia. Não entendem como pode alguém tão demente, porra louca, inconsequente e ainda amar.
Vivem um amor com sabor de fruta mordida; transformam o tédio em melodia; aguam o bom do amor; sonham acordados pra não sentirem dor. Seus pais não os conhecem, seus amigos são chatos e seus cachorros não os lambe. Agora estão em cima do muro assistindo a tudo, já que suas piscinas estão cheias de ratos. O partido deles? É o coração partido. Suas ilusões estão todas perdidas. Seus sonhos? Todos vendidos. Tão baratos, ah! Eu nem acredito!
Estão inventando tudo isso pra se distrair. Correndo na direção contrária, com suas metralhadoras cheias de mágoas. Sobrevivem da caridade de quem os detesta. Às vezes se odeiam por quase um segundo, depois se amam mais. Não buscam o paraíso, pois até o poeta fecha o livro. As possibilidades de felicidade são egoístas. Por isso inventam! Forram as paredes do quarto de miséria com manchetes de jornal, pra ver que não é nada sério. Desprezam que os ensinou que a tristeza é uma maneira da gente se salvar depois. Seus crimes não compensam. Estão cansados de tanta caretice, tanta babaquice; dessa eterna falta do que falar. Vivem num clipe sem nexo. Vagam na lua deserta... dizem alô ao inimigo... encontram um abrigo... inventam o amor! Exagerados! Tiveram seus destinos traçados na maternidade. Simples como uma filosofia de calçada... Simples como trazer mil rosas roubadas. A unica certeza que eles tem, é que O TEMPO NÃO PARA!