quarta-feira, 13 de junho de 2012

Souvenir


Só eu sei o quão intenso era meu desejo de desligar-me, como se desliga um aparelho eletrônico qualquer. Ser colocada numa estante feito uma lembrança boa; aquelas que a gente guarda com todo o cuidado e ao olhar pra ela, sorri. Ser lembrada com tanto êxtase; ou apenas surpresa. "Oh, você por aqui? Procurei-lhe por todo o canto" - eu estaria ali há tempos, que o pó veio e foi-se. Esperei-lhe notar-me. Esperei-lhe limpar-me. Esperei-lhe fazer-me voltar à vida. Mas não me encontro numa estante à ser exibida como um troféu desejado. Encontro-me onde nunca desejei estar: Fazendo parte de um calendário antigo guardado numa gaveta qualquer de uma estante velha jogada no sótão. E agora que posso eu fazer?

Dizem por aí que está fazendo frio lá fora. Ainda não saí daqui pra constar, mas só eu sei que esse frio não se compara ao que faz dentro da gente. Sabemos que sentimentos são como café que depois de esfriar, a degustação fica impossível. Tínhamos o calor; tínhamos sentimentos.  Temos o frio; temos a apatia. Não temos poder sob os verbos. Não temos poder sob nós mesmos. E agora que podemos nós fazer? Enquanto à mim, esperarei o momento de você me tirar dessa gaveta - e deixar de ser apenas uma lembrança.

Souvenirs são grilhões que nos prendem a algo que talvez nunca tenha nos pertencido. Sozinhos na estante, a gente chora de saudade do tempo perfeito, mesmo sabendo que os sócios deste estão a rir e esqueceram, de tudo que foi vivido, o tudo que lhe manteve vivo. Idas e vindas da vida, uma hora estamos abrigados no peito de alguém, em outra esquecidos no canto das das memórias.