quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tragando (des)Amor

A chuva compõe a trilha sonora dessa madrugada vazia, enquanto ela escreve seus versos simplórios, embora carregados com todos os sentimentos possíveis. Uma tragada no cigarro, solta a fumaça que a distrai fazendo-lhe companhia. Lágrimas e chuva se misturam homogeneamente à procura de algum tipo de Alívio Imediato.
Cantando melodias de algum som pesado, extravasando de alguma maneira para não enlouquecer. Os versos enchem o caderno que lhe serve de consolo. Ninguém pode ouvir seu desabafo. Ninguém pode ouvir seus choros.  Solos de guitarra, fazem esquecer o desamor Gritos ecoando no subconsciente, fazem pirar. Ninguém pode ouvir. Traga desamor. Solta fumaça que se dissipa em débil poesia melodramática.
Talvez ela seja o café frio da xícara de alguém que se nega a tomar, porque não consegue degustar depois de tê-lo esperado esfriar. Traga sentimentalismo. Solta frieza. Afoga-se, tosse, bebe um gole do seu café requentado e continua seus rascunhos. Talvez o rascunho daquele amor, tenha sido rasgado e jogado no lixo. Mas não foi ela que o fez. Alguém entrou na sua história, bagunçou-a, riscou-a e jogou fora. E agora?
Traga desamor. Solta lágrimas. Talvez ela seja o cigarro molhado de alguém ou aquele que foi aceso do lado inverso. Ou ao menos assim que se sente. Levou afeto, trouxe desgosto. Ninguém vê. Ninguém ouve. A chuva passou. O alívio imediado não veio. Não traga mais, acabou o cigarro. Quis sair pra comprar mais, e aquela famosa história de nunca mais voltar. Porém, contentou-se em dormir e desejar que acorde soterrada com o teto sob sua cama.

domingo, 2 de setembro de 2012

Todo espetáculo tem seu fim

O que é a vida, senão uma tragédia grega? Onde cada um é autor da sua própria história. Em muitas, seu autor é aquele cara depressivo que escreve com uma caneta barata que falha constantemente, bebendo um chá qualquer que provoque falência múltipla dos órgãos. Entre um solilóquio e outro, decide mudar o roteiro da peça e com alguns lapsos de memória a deixa de lado. Procurando a calma que perdeu, ao perceber que os personagens secundários são monótonos e não agem de acordo com o script. 
Às vezes este autor escreve sobre um suicida ou um idolatrador da vida, um insensível ou um sentimentaloide. Mas mal sabem os espectadores desse espetáculo, que todos esses personagens são a forma de que o escritor dela, descobriu de vomitar suas angústias que ninguém pode ou quis ouvir. Ao som de Cash, esse homem solitário decide pôr logo o fim no espetáculo. Seu último ato está para ser escrito.
Seu chá não fez efeito desejado, talvez deveria tomar mais. "Misture um pouco de Cianureto, as pragas não precisam disso mais do que você", é talvez funcione. Ele vai explodir e ninguém pode impedir. Não há ninguém para isso, não há ninguém para juntar seus miolos do chão. Ele tenta se controlar, mas o chão está se abrindo sobre seus pés, tapa seus ouvidos para não ouvir seu subconsciente gritando a verdade que ele não quer acreditar. Olhando para o cenário, reflete bem: "Isso aqui está uma insânia! Quando paro pra pensar, chego apenas à uma conclusão: O mundo é um hospício! Falo em sanidade, mas a loucura é a minha utopia. Loucos, loucos. Tão felizes. Só está a salvo quem alcançou sua insanidade ou seu óbito.".
Realmente isso parece uma loucura, o pior é quando essa loucura se passa dentro da gente. Loucura que mais parece um conflito entre as personalidades e sentimentos. Sabe, talvez ele seja um louco. Ele bem sabe quais serão os comentários sobre a peça na saída desse teatro. Mas ele nem liga, apenas lamenta as pessoas que estão presas às trevas do julgamento. Não, você não tem último pedido. Você não tem salvadores. Sem luz, câmera ou ação. Acabou o último ato.