sábado, 18 de fevereiro de 2012

Distantes

Você sabe, faço tudo errado. Cada vez que me afasto, é porque já lhe sinto distante. Cada vez que silencio, é porque preciso de suas palavras. Quando quero morrer, na verdade só quero que você me salve. Mais uma vez. Apenas mais uma. Por favor, não desista de mim. Não tão fácil assim. Não posso lhe cobrar por não saber lidar comigo, nem eu sei. Então volte para casa. Pro seu lar, meu peito. Arrumei um canto mais confortável pra você ficar. Sem bagunça. Sem feridas. Apenas amor. Volte quando quiser. Mas volte a me salvar. Logo. Agora. Sabe, eu sei que nunca fui uma boa pessoa, porém lhe garanto que sempre direcionei meu melhor pra você. Talvez você não entenda. Eu também não entendo, como pode alguém assim como eu abrigar um amor tão grande. Não necessita explicações. Volte e me salve. Mas se não for pra me salvar, não desperdice nossos tempos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sem Clarisse

Onde está Clarisse? Se alguém a ver, avise-me. Clarisse estava estranha, como nunca vi antes. Seu sorriso parecia com ferrugem, seu coração aprisionado. Tentava eu, entender aquela garota que todos julgavam, sem ao menos conhecê-la. Quis eu abraçar aquela garota. Ser seu porto seguro, protegê-la do mundo. Tão quieta, aparentemente, mas eu sabia que seus pensamentos a atordoavam. Pessoas quietas demais costumam ter pensamentos turbulentos. Com ela não era diferente. Eu deveria ter ficado com ela naquela noite anterior. Deveria, porém, fui embora. Por que? Por que eu deixei-a?
Onde está Clarisse? Preocupo-me ao saber que ela saiu as ruas, mostrando as marcas de suas dores em forma de feridas em seus braços, exibindo-se para a solidão, permitindo que as pessoas a machuquem. Não posso lembrar que deixei só, aquela garota. Deixando-se ser guiada apenas pelas estrelas, aquela garota capaz de iluminar a lua com o brilho do seu olhar triste, solitário, mas mesmo assim cintilante. Estes que esbordavam sentimentos. Eu sei que não poderia salvar Clarisse de si mesma. Mas deveria ter ficado com ela naquela noite, última noite.
Deveria ter aberto aquela - última - garrafa de vinho, posto um disco a rodar, ter-lhe citado seu poema preferido e... fechado a janela. Não fiz nada disso. Nada! Estou com o jornal em minhas mãos, meus olhos assassinam meu coração cada vez que leem tal notícia. As lágrimas estão caindo no café, já frio. Meus pensamentos gritam intrigados "POR QUE NÃO FICASSE COM ELA NAQUELA NOITE?" Leio mais uma vez, pra tentar me convencer que é um sonho:
"Garota se atira da janela do 6° andar. Ninguém sabe o motivo. Seu nome é Clarisse e segundo conhecidos, era uma garota solitária e triste. O que poderia ter motivado o ato. Foi encontrado o seguinte bilhete em seu apartamento: 'Eu tentei. Mais de uma vez. Tentei! Mas não posso ser como eles, todos tão iguais. Eu não sei lidar. Mas agora, poderei descansar.' Peritos estão no local para apurar os fatos."
Clarisse levou consigo meu coração, minha razão pra viver. Agora estou aqui. Sem coração, sem coragem, sem Clarisse e com um café frio.